Etiqueta em negócios – Geral

O Japão possui regras de etiquetas bem restritas para todas as situações. Você pode levar uma vida para entender como se comportar em cada caso. Seja em um encontro de amigos, seja em uma visita a um negócio, seja em casa.

Não cumprir etiquetas são consideradas ofensas aos japoneses. Eles tem costuma de relevar parcialmente quando se trata de estrangeiros, mas evitar cometer gafes é sempre melhor. Dessa forma, citamos alguns pontos que podem ajudar.

Leitura de ar

No Japão há uma expressão chamada 空気を読む (kuuki wo yomu), que pode ser traduzida literalmente para “ler o ar”. A cultura japonesa deixa na mão dos ouvintes a responsabilidade de entender, sem palavras ou com poucas palavras, o que o outro quer dizer.

Expressões faciais, pequenos sons ou mesmo “sim”, “não”, e “talvez” podem ter vários significados, inclusive opostos ao significado da palavra. A sociedade japonesa, diferente da brasileira, é uma sociedade altamente voltada ao grupo, ao coletivo e, por isso, todas as suas ações devem ser pensadas se irão manter a harmonia coletiva.

Os japoneses estão sempre buscando manter a harmonia. Assim, evita-se falar muito e espera-se que o outro entenda a mensagem sem que seja necessário chegar a um confronto. As cobranças e reclamações são feitas entre as partes, mas os japoneses evitam ao máximo que a reunião “azede”, deixando todos sem palavra.

Caso queira se aprofundar nas raízes da cultura japonesa, recomendo a leitura do livro “O Crisântemo e a Espada” da antropóloga Ruth Benedict, publicado em 1946. Naquela época, ela foi contratada pelo governo americano para estudar a cultura japonesa, pois havia muito pouco entendimento de como os japoneses pensam. Enquanto dizer “sim”, quando você está dizendo “não” na verdade, é um sinal de desonestidade para os ocidentais, para os japoneses é uma questão de polidez e etiqueta e o que houve foi a falta de tato seu para entender o significado real do “sim”.

Você é a cara de sua empresa

Quando você está em negócios, você representa sua empresa. Desde o uniforme impecável, tal como a fala e o atendimento representam a empresa. Por isso, é sempre bom colocar profissionais qualificados e treinados para tratar com os japoneses.

Detalhes como uma mão guardada no bolso, um uniforme amassado, sua organização, seu material de apresentação. Tudo isso não representa o seu profissional que está se relacionando, mas toda sua empresa.

Conhecer com que você está falando

No Brasil, vamos a reuniões e aulas para conhecer e descobrir. No Japão, você vai a elas para se aprofundar. Nunca vá a uma reunião sem conhecimento prévio sobre a empresa que você vai estar falando, sabendo fazer as perguntas pertinentes e comentar inclusive de assuntos (positivos) recentes quanto a empresa. No caso do Japão, o dever de casa vem antes da aula.

O mesmo vale para sua empresa. Você deve conhecer impecavelmente sua área, para respostas seguras. Ao mesmo tempo, você deve conhecer também o restante da empresa para que não seja pego desprevenido (afinal, eles estudaram você também).

Hierarquias

A sociedade japonesa possui diversos graus complexos de hierarquia. Você não conseguirá aprender em leitura todos eles, mas é importante saber que diferente do Brasil e Estados Unidos que você apenas chama a outra pessoa de “senhor” e “você”, no Japão há diversos outros protocolos e é muito importante você entender e observar eles um pouco antes de interagir.

Troca de cartões de visitas

A regra geral do cartão de visita no Japão é que você precisa ter um e é uns dos primeiros passos (senão o primeiro) em uma apresentação. No cartão de visitas, está escrito seu nome, cargo, empresa e dados de contato. Além disso, resumidamente cito:

  • O cartão deve ser entregue com as duas mãos (respeito) e com seus dados direcionados a quem vai receber;
  • O cartão deve ser recebido com as duas mãos (respeito) e deve ser lido na hora. Deve-se atentar a leitura do nome da pessoa;
  • O cartão não pode ser guardado imediatamente (respeito e cuidado), deve ser mantido na mesa ou na mão até o fim da reunião e conversa. Somente na despedida deve-se guardar o cartão.

Interações sociais

Se curvar

Enquanto no ocidente é comum os apertos de mão para se cumprimentar e se despedir. No Japão é costume se curvar da mesma forma. A profundidade e tempo que você se curva também indicam seu grau hierárquico na relação.

Contato no olhar

Deve-se também evitar contato prolongado de olhares. No ocidente olhar fixamente ao seu falante é algo positivo, mas no Japão o ato é considerado agressivo, fazendo os japoneses ficarem bem desconfortáveis.

Apontar

No momento de indicar algo, evitar ao máximo apontar a alguém, seja com sua caneta ou seja com seu dedo. O mais adequado é citar o nome da pessoa ou, no máximo, indicar com a mão aberta.

Contato físico

Além disso, os japoneses não se tocam e podem considerar esse ato extremamente invasivo e desconfortável. No Brasil é muito comum as pessoas se encostarem e se pegarem (mãos nos ombros para chamar atenção, ou mesmo segurar um braço).

Humildade e querer aprender

Aprendemos no ocidente sobre o “perfect pitch“, aquela conversa de 60 segundos num elevador que vai vender sua empresa. No Japão isso não funciona integralmente.

Ao mesmo tempo que é importante você conhecer a empresa que você vai falar, você não precisa dar uma aula dela para os japoneses (afinal, eles sabem mais deles mesmo que você). Assim, é importante uma postura de humildade: você conhece os negócios, mas também não vai falar o que eles devem fazer e o que é certo e errado. Você está lá para aprender com eles.

Sair para beber

Enquanto no dia a dia profissional há diversas regras sociais. Um momento que se abaixa a guarda é quando os japoneses saem para beber.

Caso eles o convidem para beber depois de um dia de trabalho com o grupo, é de bom tom aceitar o convite e participar (mesmo que você não beba). A participação da confraternização significa sua tentativa de querer fazer parte do grupo.

Durante esses momentos de bebida, os japonesas gesticulam mais, falam mais alto e, inclusive, fazem contato físico. Nesses momentos também que ocorrem algumas falas diretas entre eles. Tudo que não ocorreu na reunião mais cedo é liberado durante esse momento de confraternização (com limites, claro).

Entretanto, no próximo dia, de manhã. Tudo que aconteceu na noite anterior fica na noite anterior. Você não esquece o que passou como em “Las Vegas”, mas contatos no bar não significam que as relações pessoais no dia de trabalho não voltem a ser formais.

Conclusão

Esse guia não é completo. Como dito inicialmente, a quantidade de regras sociais é imensa. Como estrangeiro, você terá a vantagem dos japoneses perdoarem diversas gafes e receber orientações de vários deles de como se comportar mais adequadamente.

Recordo que este não é um “manual de como ter sucesso no Japão”. Esses são meus aprendizados e eles podem divergir da opinião de outros. Além disso, nem todo japonês é igual, o que busco aqui é dar um contexto aos brasileiros que não conhecem da cultura japonesa e que pretendem se aproximar do mercado japonês.

Futuramente abordarei alguns tópicos específicos para maior aprofundamento.

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